Eis o líder de vendas do mercado brasileiro. Claro, não exatamente este carro que testamos, mas sim o Gol, modelo que, ao longo de gerações, carrega na cintura o cinturão de campeão de vendas, não importa os concorrentes que aparecem pelo caminho, ainda que um ou outro ameace sua liderança. No acumulado de Outubro da Fenabrave por exemplo, o Gol obteve 21.722 unidades vendidas, ante 14.410 unidades do Fiat Uno, segundo colocado. No acumulado do ano, a diferença é igualmente expressiva, 209.871 unidades do alemão contra 155.397 unidades do italiano.
Mas o Gol que vende mais não é o Gol Rallye. Este último é um carro com público-alvo bem definido, quase aquele tipo de consumidor da nova moda “Gourmet”, ou seja, comidas convencionais com roupagem diferenciada e sabor semelhante, mas que custam mais caro e satisfazem o ego de quem os consome. Para a maioria das pessoas não mudaria nada, e seria totalmente dispensável, mas para quem defende os produtos “Gourmet”, faz toda a diferença.
Na mecânica, as modificações em relação ao Gol 1.6 convencional são poucas. Além dos 28 mm a mais de altura de rodagem, a barra estabilizadora dianteira é mais parruda. Mas o refinamento da modificação não consiste apenas em molas mais altas, houve modificação na altura do chassi e do conjunto de motor e transmissão em relação ao monobloco, que estão posicionados 20 mm mais baixos que o convencional. Esse refinamento permite que a suspensão trabalhe praticamente na altura de projeto, ainda que o carro tenha maior distância livre do solo. As rodas aro 16 são exclusivas, e apesar do apelo “aventureiro”, são calçadas com pneus de asfalto Pirelli P7, de medida 195/50 R16.
Seu preço já começa em altos R$ 49.450, trazendo como equipamentos de série ar-condicionado, direção hidráulica, freios com ABS, duplo airbag frontal, pedaleiras cromadas e trio elétrico. E para estacionar na garagem um exemplar igual ao que testamos, coloque na conta o Pacote I-Trend com Shift Paddles (R$ 1.370) que inclui I-System, rádio com bluetooth e entradas auxiliares e volante multifuncional com paddle-shifters. Não esqueça da lanterna de neblina (R$ 121), os faróis com coming & leaving home (R$ 201) e o revestimento dos bancos em “couro” native (R$ 631). Ah, inclua também a cor Amarelo Solaris (R$ 1.585), fazendo o preço do carro chegar em R$ 53.358.
Logo ao entrar no carro, nota-se que os encaixes são ótimos, com plásticos de qualidade aceitável. A ergonomia é boa, padrão alemão, com a maioria dos comandos no local correto, exceto o acionamento dos vidros elétricos traseiros no centro do painel. Ponto positivo para a posição de dirigir excelente, graças à regulagem em altura e profundidade da coluna de direção. O assento merecia uma regulagem de altura melhor, sem a necessidade de precisar levantar-se do mesmo para efetuar a regulagem. Já o espaço interno é bom nos bancos dianteiros e aceitável na parte traseira, que traz espaço razoável para as pernas e bom para a cabeça, mas no meio do banco viaja apenas uma criança. O porta-malas está na média, com 285 litros.
Não há dificuldade para manobrar o Gol Rallye, suas dimensões são compactas, com 3,92 m de comprimento e largura de 1,65 m. Além disso, a visibilidade é exemplar para todos os lados, e tudo fica mais fácil com o sensor de estacionamento que traz ainda tilt-down do espelho direito e visualização gráfica. O diâmetro de giro de 10,8 m poderia ser melhor, mas a direção hidráulica de peso suave em manobras facilita o trabalho do condutor. Em garagens ou balizas, apenas o câmbio automatizado ASG atua como vilão, por não contar com o recurso de avanço lento Creeping, tornando tensas situações simples, como aqueles pequenos centímetros que precisamos andar para ficar mais perto da parede, ou do carro alheio, sem precisar medir a distância “no tato”, ou seja, batendo.
O motor é o velho conhecido EA111 VHT 1.6 8V, com 101/104 cv de potência @ 5.250 rpm e torque de 15,4/15,6 kgfm @ 2.500 rpm (Gasolina/Etanol em ambos os casos), que combina deliciosamente bem com os 1.018 kg do Gol Rallye. O torque em baixa seduz em uso urbano, ainda mais nesse câmbio ASG, que teve as relações da 2a, 3a e 4a marcha encurtadas, resultando em retomadas bem ágeis. Acionando o botão “Sport” do câmbio, torna-se viciante acelerar fundo e sentir o bom torque do motor ditando as regras da brincadeira. Mas para andar suave, o modo “Drive” convencional faz trocas em rotações baixas, privilegiando o consumo, embora apresente trancos desagradáveis, especialmente nas marchas mais baixas. O ajuste da suspensão é excelente, sem ressalvas.
Em percurso rodoviário o carro vai igualmente bem, com retomadas rápidas e aceleração exemplar até os limites de velocidade da estrada, embora o motor perca um pouco do seu fôlego inicial em altos giros. Em modo automático, o câmbio entende bem as solicitações do condutor, respondendo bem ao kick down e trocando as marchas com boa velocidade, especialmente em modo “Sport”, que praticamente ignora a 5a marcha. Em velocidade de cruzeiro, a suspensão filtra bem as irregularidades, enquanto o isolamento acústico mantém os ruídos aerodinâmicos quase totalmente do lado de fora.
Mas a cereja do bolo deste carro é seu comportamento dinâmico em curvas. Pegue aquela estradinha de serra com baixo movimento, jogue a alavanca do ASG para o modo manual, acelere até a entrada da curva, reduza duas marchas, sinta os Pirelli P7 mordendo o asfalto, então acelere na saída e jogue as marchas para cima conforme a velocidade sobe. Repita até a exaustão e admire como esse carro altinho tem “chão” suficiente para andar junto com o Gol convencional em qualquer estrada sinuosa, com pouquíssima rolagem de carroceria. No limite a dianteira escorrega, mas a neutralidade do carro é notável, uma delícia. Os freios respondem bem ao comando, embora o pedal seja borrachudo demais e o ABS não seja tão permissivo.
Completamos cerca de 500 km de testes com o Gol Rallye, sempre abastecido com Gasolina. O consumo ficou na casa dos 9,2 km/l em uso urbano e 12,6 km/l em uso rodoviário, que eu considero apenas razoável devido ao baixo peso do carro, mas pesa na conta o elevado Cx de 0,369. Na prática, o Gol Rallye cobra caro por sua roupagem rebelde, cerca de R$ 2.000 a mais que um Gol Highline com equipamentos semelhantes. De qualquer forma, ambos são caros, assim como um brigadeiro “Gourmet” é caro, mas tem quem compre. Se você faz questão de um carro com dinâmica excelente, suspensão parruda para passar rápido em lombadas e levantar poeira naquelas estradas de terra aonde todos andam mais devagar, ou apenas curte o Gol com visual aventureiro, este é o seu carro.
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