O antigomobilismo no Brasil acaba de conquistar vitórias importantes para a consolidação de sua relevância internacional: dois carros que compõem o acervo do museu CARDE, em Campos do Jordão (SP), foram premiados na estreia do Brasil na Monterey Car Week, na Califórnia (EUA).
No último domingo (17), o Isotta Fraschini Tipo 8A SS Guida Interna Sport 1928 da coleção fez história no Pebble Beach Concours d’Elegance com o troféu “Lap of the Luxury”. O prêmio consagra o carro mais luxuoso do evento, que é reconhecido como o mais prestigiado do mundo no universo dos veículos clássicos. Além de exposto no gramado no campo de golfe de Pebble Beach no domingo, o caminho para a vitória começou na quinta, quando o carro participou do Tour d’Elegance, um trajeto de aproximadamente 100 quilômetros, que percorre a paradisíaca 17 Mile Drive, na Highway One, até Big Sur. Nele, o Isotta Fraschini 1928 e o duPont Model E Touring 1927 – outro modelo enviado pelo CARDE para a Monterey Car Week e exposto em Pebble Beach – demonstraram que não são apenas itens de coleção, mas também máquinas no tempo que funcionam perfeitamente, apesar dos quase 100 anos de idade.
O prêmio em Pebble Beach, coroou uma dupla consagração da primeira participação do Brasil no Monterey Car Week. Na sexta-feira (15), no The Quail, outro evento de classe internacional, a Ferrari F50 exposta no CARDE levou o prêmio máximo na categoria que celebra os 30 anos do superesportivo italiano. Além da rigorosa originalidade e do estado de conservação impecável, o exemplar exposto no CARDE se destacou diante de outros 16 representantes do modelo por sua exclusividade, já que se trata do segundo de três protótipos construídos antes da produção das 349 unidades destinadas ao mercado.
“Foram dois prêmios que não esperávamos ganhar logo na primeira vez em que o Brasil participa como expositor tanto no The Quail quanto no Pebble Beach Concours d’Elegance. Mas esses reconhecimentos transmitem à elite do antigomobilismo mundial que nossa cultura automotiva comporta modelos desse calibre de sofisticação, raridade e valor. É especial pensar que tudo isso era um sonho, e que hoje estamos tendo a oportunidade de viver isso na prática”, declara Luiz Goshima, diretor do CARDE e membro honorário da Fundação Lia Maria Aguiar.
Isotta Fraschini Tipo 8A SS Guida Interna Sport 1928
Reconhecida internacionalmente, a marca Isotta Fraschini foi fundada em 1900, em Milão, na Itália, por Cesare Isotta e pelos irmãos Fraschini (Vincenzo, Antonio e Oreste). Célebre por associar inovação e qualidade na construção de seus veículos, produziu uma extensa gama de modelos representativos no decorrer das primeiras décadas do século XX.
O Tipo 8ª foi apresentado ao público em 1924. Retratando o ápice da sofisticação automotiva italiana, era equipado com um motor de oito cilindros em linha, de 7,4 litros, que gerava cerca de 110 cavalos de potência.
Adquirido pelo aviador brasileiro João Ribeiro de Barros no final da década de 1920, o Isotta Fraschini Tipo 8ª SS chassis 1532 foi finalizado em 1928. Possui desenho exclusivo, elaborado pela Carrozzeria Italiana Cesare Sala, de Milão. Ribeiro de Barros ganhou notoriedade em 1927 por liderar a travessia do Atlântico Sul em voo sem escala, a bordo do hidroavião Jahú, um Savoia-Marchetti S.55, equipado com dois motores Isotta Fraschini.
duPont Model E Touring 1927
Já o norte-americano duPont Model E foi fabricado somente por dois anos, entre 1927 e 1928. Equipado com um motor de seis cilindros e disponibilizado em cinco estilos distintos de carroceria, somente 83 unidades foram construídas.
O modelo em exposição foi faturado para Nova York diretamente para o escritório de vendas dos irmãos Miranda, à época os distribuidores oficiais da marca, e exportado em seguida para a América do Sul. Um imponente Touring foi enviado para o Brasil para servir de protótipo de testes e demonstrações. Chassis número 547, é um dos poucos Model E existentes, assim como um dos duPont mais antigos do mundo.
CARDE é parte da Fundação Lia Maria Aguiar
No meio de uma floresta preservada de araucárias na cidade de Campos do Jordão, a 170 quilômetros de São Paulo, o CARDE surge como um espaço dedicado à valorização da cultura e da história do Brasil, principalmente a do século 20, utilizando o automóvel como personagem principal. O museu traz uma forma única de contar os fatos históricos, já que muitos dos automóveis ali apresentados são mais que produtos para mobilidade — eles se tornaram parte da trajetória do nosso País.
Inaugurado em 28 de novembro de 2024, em sete meses de atividades o CARDE já ultrapassou a marca de 50 mil visitantes. O museu é parte da Fundação Lia Maria Aguiar (FLMA), que conta com outras iniciativas na cidade de Campos do Jordão. A instituição independente e sem fins lucrativos tem mais de 700 alunos, entre crianças e adolescentes, beneficiados por cursos artísticos profissionais através dos Núcleos de Dança, Música e Teatro, que se tornam a porta de entrada para um mundo de oportunidades e possibilidades.
A FLMA também conta com o Núcleo de Saúde, gerido em parceria com o Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês, que atende de forma gratuita, com mais de 100 mil consultas, procedimentos e exames anualmente, além do inédito tratamento de hemodiálise no município.
Lia Maria Aguiar é eternizada no Hall da Fama da FIVA
A Federação Internacional de Veículos Antigos (FIVA – Fédération Internationale des Véhicules Anciens), por meio de sua representante no Brasil, a Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), acaba de anunciar a mais nova integrante de seu internacional Heritage Hall of Fame: Lia Maria Aguiar. É a primeira mulher brasileira a receber essa honraria global, pelo seu compromisso com a preservação do patrimônio antigomobilista.
Segundo o anúncio da FIVA, “a conquista é um reconhecimento direto ao seu audacioso projeto em Campos do Jordão (SP), onde construiu o CARDE | Arte Design Museu, maior museu antigomobilista da América Latina”. É um marco histórico para o Brasil. Apenas três brasileiros agora compõem essa seleta lista, também formada por Og Pozzoli e Roberto Suga, dois ícones reconhecidos pela sua relevância na preservação da memória antigomobilista.
Fonte: [email protected] / [email protected]